Descobri esse texto, interessantíssimo, futucando um dos blogs o qual eu costumo seguir com uma relativa regularidade, assinado pelo jornalista e cronista cearense Xico Sá (
http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/).
Trata-se de uma reflexão bem-humorada e sem "frescuras" sobre uma das questões mais discutidas e também mais témidas (principalmente por nós, "homens com H"): o chifre.
Enfim: quem nunca levou (ou pelo menos não sabe que já levou)?
A todos e a todas, uma inquietante leitura!
Como
assim corno de si mesmo?
É
possível?
Como
aprendi, entre outras tantas lições, com o meu conterrâneo Miguel Arraes: “Meu
filho, tudo é possível no mundo dos possíveis”. Era uma coletiva no Palácio do
Campo das Princesas. Jovem repórter, havia feito uma pergunta imbecil qualquer.
É
possível ser corno de si mesmo? Sim. Está ai o Marques de Sade, um dos
padrinhos sentimentais deste blog, que não nos deixa mentir.
Cuidado.
É mais possível do que o amigo e a amiga imaginam.
Digamos
que você vá a uma baile de máscaras. E lá esteja, sem que o saiba, seu marido
ou a sua mulher. Você transa sem saber que é ele(a).
Eis a
pista. Mais eu não conto para não estragar de tudo a leitura deste conto
genial. Havia sido lançado pela Hedra, agora volta em uma edição para lá de
econômica, apenas cinco mangos, na coleção de banca da L&PM.
Coleçãozinha
excelente da editora de Porto Alegre. São livros de até 64 páginas, contos ou
pequenos ensaios. Ideais para ler no metrô, em uma ponte aérea, no consultório.
Bela
iniciativa no país dos livros caros e dos homens baratos.
“O corno
de si mesmo” é da série de textos que o nobre Marquês escreveu quando estava
preso na Bastilha, por volta de 1787, na França.
De si
mesmo ou de outrem, amigo, algum dia faltamente seremos. Por isso o valor dessa
literatura para refletir e coçar a testa. Eu recomendo.
Não há
nada demais nisso. Seja você manso, complacente, quase um voyeur do chifre,
como muitos personagens de Sade. Seja você um corno bravo, destemido, do tipo
que sai a fazer besteiras. Inúteis besteiras. Chifre posto, nada mais nessa
vida o subtrai.
Sim, caro
Marçal Aquino, o amor e outros objetos pontiagudos. Acontece nas melhores
famílias da Inglaterra ou do Crato.
Só um
chifre, aliás, humaniza um macho. Só um chifre tira a nossa arrogância
falocrática.
E já que
falamos de filosofia de pára-choque, fica aqui um clássico: chifre é para
homem, boi usa de enxerido.
Relaxa.
Xico Sá
(Jornalista, colunista da Folha de São Paulo)