quinta-feira, 10 de maio de 2012

álbuns inesquecíveis - rock (nacional)

Música sempre fez parte de minha vida. Desde muito jovem, lembro-me, por exemplo, de ouvir os LPs de Roberto Carlos junto com meu pai, fã confesso do “rei”.
Comecei me interessando, de forma ainda meio descompromissada, por músicas que estavam na moda, na época (início da década de 1990), as chamadas “mixages”, ou simplesmente músicas eletrônicas comerciais. Mas, interesse em música pra valer mesmo veio com o rock, a partir de meados da década citada. A partir de então, veio outros interesses musicais, e desde então nunca mais deixei se ouvir música. Mais do que isso, sentir música.
A série que agora inauguro tem por objetivo fazer uma antologia musical da minha vida, álbuns, de diferentes vertentes musicais, que foram cruciais para o meu despertar nessa arte soberana e que até hoje compõem a trilha sonora de minha existência.
Os álbuns não estarão em ordem de preferência ou de qualquer outro critério, estarão organizados aleatoriamente.
Abrindo a série, uma pequena seleção de álbuns de rock “brazuca” marcantes em minha vida. Lógico que não estão todos eles (seriam muitos), apenas alguns que despertam uma nostalgia especial em mim. 
 


Raimundos – Raimundos


Se não me falha a memória, este foi o primeiro álbum que me despertou realmente para o rock nacional. Isso em 1995, aproximadamente. Quando ouvi pela primeira vez esse álbum, por meio de uma fita cassete emprestada por um colega de escola na época (o saudoso Antônio Érico), fiquei em estado de êxtase. Uma barulheira “infernal”, permeada por um vocal esquizofrênico entoando letras recheadas de palavrões e gírias. Um hardcore nervoso e visceral temperado por elementos da cultura nordestina, como o baião. Destaque para as faixas Puteiro em João Pessoa, Nega Jurema, Cintura Fina e Rapante. Ah, também tem a “baladinha” Selim.
 

Legião Urbana – As Quatro Estações


Esse álbum, apesar de não ter sido meu primeiro contato com esse grupo brasiliense seminal para a explosão do pop rock nacional na década de 1980, foi, sem dúvida, o que contribuiu para que eu começasse a observar o rock brasileiro com outros olhos. Capitaneado pelo eterno Renato Russo, esse registro traz canções que constituem verdadeiros hinos para a juventude brasileira, como Pais e Filhos e Há Tempos. Há também baladas com alguma essência politizada, como a bela Se Fiquei Esperando o Meu Amor Passar. Também destaco canções menos populares como Eu Era Um Lobisomem Juvenil.


Titãs – Go Back


Esse álbum constitui o primeiro registro ao vivo do grupo paulistano em áudio, gravado em 1988. A faixa título é originalmente um belíssimo poema do tropicalista Torquato Neto, morto em 1973. O arranjo é um reggae melódico e cadenciado que se encaixou perfeitamente na letra.

“Você me chama
Eu quero ir pro cinema
Você reclama
Meu coração não contenta
Você me ama
Mas de repente
A madrugada mudou (...)”

O álbum ainda traz canções emblemáticas e sucessos em versões furiosas, como Pavimentação, Cabeça Dinossauro e Polícia.


Paralamas do Sucesso – Vamo Batê Lata


Esse álbum duplo do grupo carioca, também seminal para a explosão do rock nacional nos anos 1980, contribuiu para que eu passasse a enxergar a banda de verdade. A mistura de rock, ska, reggae e sonoridades da música latina em geral, abriram meus olhos para outras possibilidades sonoras dentro do rock n’ roll. Até então, conhecia um hit aqui, outro acolá (isso em 1995, mais ou menos), mas nunca tinha parado para escutar nada deles mesmo. O material contém um álbum de estúdio contendo quatro faixas, então inéditas, com destaque para Uma Brasileira, parceria de Hebert Vianna e Carlinhos Brown e a politizada Luíz Inácio, uma referência ao então futuro presidente da república. No álbum gravado ao vivo, fica evidenciada a plena harmonia entre três músicos explendidamente talentosos e uma banda de apoio igualmente sensacional. O registro é aberto com a emblemática e então inédita A Novidade, parceria da banda com Gilberto Gil. Destaques também para Dos Margaritas, a belíssima Lanterna dos Afogados e Meu Erro, com direito a Soul Sacrifice, do espetacular guitarrista mexicano Carlos Santanna, como faixa incidental.


Ave Sangria – Ave Sangria


Juntamente com os Mutantes, esse grupo pernambucano, pioneiro na cena psicodélica nordestina no início dos anos 1970, me chamou atenção tanto pela musicalidade emm si, uma mistura de rock psicodélico com elementos da música popular nordestina, como pela presença de palco dos caras. Tive a oportunidade de ver alguns vídeos de shows deles, que chegavam a soltar charadas para os policiais que faziam a “segurança” do show, isso em plena ditadura militar. Também se apresentavam travestidos e chegavam a se beijarem na boca em algumas ocasiões. Merecem destaques também as letras emblemáticas do poeta e vocalista Marco Pólo, como Três Margaridas, a polêmica Seu Waldir (com suposta apologia ao homossexualismo) e O Pirata, e para a bela Dois Navegantes, composta pelo baixista Almir de Oliveira. Tem também a instrumental, com título provocador, Sob o Sol de Satã. Após o fim do grupo, em 1976, cada integrante tomou um rumo. Dos que ainda têm mais contato com a mídia, Marco Pólo hoje trabalha como jornalista e poeta e o guitarrista Paulo Rafael é produtor musical e faz parte da banda de apoio de Alceu Valença.  
 

Chico Science & Nação Zumbi – Da Lama ao Caos


O Movimento MangueBeat, capitaneado por Fred Zero Quatro e Chico Science, respectivos líderes dos grupos Mundo Livre S. A. e Chico Science & Nação Zumbi, respectivamente, constituiu um dos movimentos mais emblemáticos no sentido de reafirmar o caráter universal da música nordestina no Brasil. Surgido a partir do manifesto intitulado Caranguejos com Cérebro, assinado por Fred Zero Quatro, o movimento propunha uma revalorização da cultura popular nordestina, especialmente a  pernambucana, a partir de um olhar para o contexto sócio-cultural das comunidades dos  manguezais, e também de sua dinâmica natural. O álbum citado constitui o primeiro registro do citado grupo, que chamou atenção pelo som pesado do rock, casado pelo suingue da sonoridade de dubs e da soul music, com elementos do maracatu (tambores frenéticos, agogôs, djambês, enfim). Destaque para canções que marcaram época como Da Lama ao Caos e Banditismo por uma Questão de Classe.
 

Lampirônicos – Que Luz é Essa?


Esse grupo baiano surgiu na terra do axé no início dos anos 2000, com uma proposta musical pautada na mistura suingada do pop rock com o baião e a música eletrônica. O nome surgiu da fusão do termo “Lampiões eletrônicos”, durante uma brincadeira entre os integrantes. O álbum é o primeiro registro do grupo, e também o único com o vocalista original Nikima, que deixou o grupo após a turnê do álbum para se dedicar a projetos mais alternativos. A faixa-título é uma das muitas canções esquecidas de Raul Seixas, que originalmente é um baião, e que na nova versão ganha um suingue capitaneado por samplers e guitarras. Algumas canções merecem destaque como Olhou pro Céu, Mestiça Raíz e a ótima regravação de Espelho Cristalino, de Alceu Valença, que conta com uma participação do próprio nos backing vocals.

henrique magalhães
(todos os direitos reservados)

Um comentário:

Weslley Almeida disse...

Rapaz, muita coisa boa discutida em um só tomo...!
Desses álbuns, os que mais me marcaram foram o "Vamo Batê Lata" e "As quatro Estações". Minha adolescência tinha constantemente a trilha sonora deles, no toca discos e no violão.